18/06/14

Autores e Autógrafos

Uma das atracções das feiras do livro é a presença de autores disponíveis para conversar e assinar livros. Para quem não está habituado a estas lides, deixo um estudo sucinto, embora imprescindível, sobre os vários tipos de autores que aí podemos encontrar, classificados pela atitude e pelo grau de popularidade.

1. Os que têm um ego enorme. Endeusados pelo público e pela crítica, contam com alguns prémios literários, embora achem que mereciam mais. Nunca sorriem e costumam insultar os leitores masoquistas que não desistem de lhes pedir autógrafos. 
Alguns dos insultos mais comuns: “venho para aqui promover o meu último livro e você compra o penúltimo, só porque é mais barato?”; “que raio de nome é esse, os seus pais não gostavam de si?”; “quem é você para me dar lições de pontuação?”. 
Vá-se lá saber porquê, estes autores raramente se encontram acompanhados pelos respectivos editores, que costumam fazer-se substituir por assistentes estagiários.

2. Os verdadeiros feirantes. Geralmente acarinhados pelo público e pela crítica, estão sempre bem-dispostos e gostam de apregoar os títulos dos livros deles e os respectivos descontos.

3. Os introvertidos afáveis. Sorriem cordialmente quando os leitores os abordam, mas falam pouco e num volume baixo.

4. Os solitários entediados. Passam tardes inteiras sem que um único leitor se aproxime. Costumam ser colocados ao lado de autores populares com filas intermináveis, o que lhes permitiu desenvolver uma enorme capacidade de resistência à frustração.

5. Os “vanity victims”. Pagaram uma boa quantia para publicarem numa editora que publica qualquer um e outra pela oportunidade de irem assinar livros. É possível que alguns se disponham a pagar a quem lhes peça autógrafos.

Terminada esta divisão, podemos ainda categorizar os autores pelo tipo de autógrafos que assinam.

1. Os repentistas. Improvisam rapidamente jogos de palavras a partir do nome ou das características dos leitores. Pelo menos, até se cansarem e começarem a escrever o mesmo a todos.

2. Os astrólogos. Fingem escrever uma dedicatória a partir das características daquele leitor específico, mas no fundo escrevem mensagens que se aplicariam a milhares de pessoas diferentes.

3. Os despachados. Limitam-se a escrever generalidades como “beijos”, “abraços”, “cumprimentos” ou “volte sempre”.

4. Os esquecidos. É preciso dizer-lhes o nome cinco vezes e acabam por se enganar ao escrevê-lo na dedicatória.

5. Os inseguros. Pedem sempre desculpa pela dedicatória: “ai que rimei sem querer”, “ai que escrevi uma redundância”, “ai que ninguém percebe a minha caligrafia”. Proponho que estes autores passem a ser acompanhados por uma equipa de apoio e que se adopte o seguinte processo: o leitor compra o livro, o autor escreve a dedicatória num guardanapo, o editor dá-lhe umas dicas para a melhorar, o autor procede às alterações necessárias para satisfazer o editor, o revisor elimina as eventuais gralhas, o designer amanuense passa a dedicatória para o livro com uma caligrafia impecável e, finalmente, o RP devolve o livro ao leitor, que se vai embora satisfeito.

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