19/10/14

Cosido à Linha, Colado a Quente




No próximo dia 23 (quinta-feira), pelas 18:30, no Goethe-Institut  (Campo Mártires da Pátria, 37, Lisboa) o escritor João Eduardo Ferreira lançará o livro Cosido à Linha, Colado a Quente, publicado pela editora By The Book.
 
Haverá ainda um debate, com a presença de Lídia Jorge, Sandro William Junqueira e Manuel Halpern, com o mote «porque deseja o autor publicar?». De seguida lerei alguns excertos da obra.

O evento não será transmitido em directo pelo Facebook (embora possam vir a ser publicadas algumas fotografias para memória futura). Encontramo-nos por lá?


18/06/14

Autores e Autógrafos

Uma das atracções das feiras do livro é a presença de autores disponíveis para conversar e assinar livros. Para quem não está habituado a estas lides, deixo um estudo sucinto, embora imprescindível, sobre os vários tipos de autores que aí podemos encontrar, classificados pela atitude e pelo grau de popularidade.

1. Os que têm um ego enorme. Endeusados pelo público e pela crítica, contam com alguns prémios literários, embora achem que mereciam mais. Nunca sorriem e costumam insultar os leitores masoquistas que não desistem de lhes pedir autógrafos. 
Alguns dos insultos mais comuns: “venho para aqui promover o meu último livro e você compra o penúltimo, só porque é mais barato?”; “que raio de nome é esse, os seus pais não gostavam de si?”; “quem é você para me dar lições de pontuação?”. 
Vá-se lá saber porquê, estes autores raramente se encontram acompanhados pelos respectivos editores, que costumam fazer-se substituir por assistentes estagiários.

2. Os verdadeiros feirantes. Geralmente acarinhados pelo público e pela crítica, estão sempre bem-dispostos e gostam de apregoar os títulos dos livros deles e os respectivos descontos.

3. Os introvertidos afáveis. Sorriem cordialmente quando os leitores os abordam, mas falam pouco e num volume baixo.

4. Os solitários entediados. Passam tardes inteiras sem que um único leitor se aproxime. Costumam ser colocados ao lado de autores populares com filas intermináveis, o que lhes permitiu desenvolver uma enorme capacidade de resistência à frustração.

5. Os “vanity victims”. Pagaram uma boa quantia para publicarem numa editora que publica qualquer um e outra pela oportunidade de irem assinar livros. É possível que alguns se disponham a pagar a quem lhes peça autógrafos.

Terminada esta divisão, podemos ainda categorizar os autores pelo tipo de autógrafos que assinam.

1. Os repentistas. Improvisam rapidamente jogos de palavras a partir do nome ou das características dos leitores. Pelo menos, até se cansarem e começarem a escrever o mesmo a todos.

2. Os astrólogos. Fingem escrever uma dedicatória a partir das características daquele leitor específico, mas no fundo escrevem mensagens que se aplicariam a milhares de pessoas diferentes.

3. Os despachados. Limitam-se a escrever generalidades como “beijos”, “abraços”, “cumprimentos” ou “volte sempre”.

4. Os esquecidos. É preciso dizer-lhes o nome cinco vezes e acabam por se enganar ao escrevê-lo na dedicatória.

5. Os inseguros. Pedem sempre desculpa pela dedicatória: “ai que rimei sem querer”, “ai que escrevi uma redundância”, “ai que ninguém percebe a minha caligrafia”. Proponho que estes autores passem a ser acompanhados por uma equipa de apoio e que se adopte o seguinte processo: o leitor compra o livro, o autor escreve a dedicatória num guardanapo, o editor dá-lhe umas dicas para a melhorar, o autor procede às alterações necessárias para satisfazer o editor, o revisor elimina as eventuais gralhas, o designer amanuense passa a dedicatória para o livro com uma caligrafia impecável e, finalmente, o RP devolve o livro ao leitor, que se vai embora satisfeito.

08/05/14

Encontro Internacional de Editores Independentes

Entre 8 e 10 de Maio, não percam o Edita Lisboa. No dia 10 (sábado), às 18 horas, ser-me-á entregue o diploma pelo «Teremos Sempre Tebas», texto vencedor do 1º Concurso de Dramaturgia Guilherme Cossoul. Gostava que nos encontrássemos por lá, neste e noutros eventos - feiras do livro, conferências, exposições, apresentações, recitais, performances, etc.

Edita Lisboa, Encontro Internacional de Editores Independentes, Sociedade Guilherme Cossoul (Avenida D. Carlos I, n.º 61, 1º Andar – em Santos, perto do IADE). Entrada livre.



22/04/14

Excerto de «As Grandes Dionísias»



TIRÉSIAS 2
Tens uma língua fluente, mas não há bom senso nas tuas palavras. Esse novo deus alcançará uma grandeza que sou incapaz de descrever. É que há duas coisas, ó jovem, que ocupam o primeiro lugar entre os homens: a deusa Deméter, que é a Terra e que alimenta os homens; e o deus Baco, que inventou o licor dos cachos, que faz esquecer os males do dia-a-dia. É ele que, sendo deus, é oferecido em libação aos deuses. E também é profeta, porque o transe e o delírio têm grandes poderes divinatórios.

TABERNEIRO
Ámen!

10/04/14

Concurso de Dramaturgia Guilherme Cossoul



"A Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul tem o prazer de anunciar a obra vencedora da 1.ª edição do CONCURSO DE DRAMATURGIA GUILHERME COSSOUL, bem como a obra agraciada com menção honrosa:

Obra vencedora:
«Teremos sempre Tebas», de Firmino Alves Bernardo

Menção honrosa
«Jabuticaba», de Celena da Rocha Brandão"

(Retirado daqui)

02/04/14

Apresentação do livro «As Grandes Dionísias» de Firmino Bernardo e Suzana Branco na SMUP


rótulo de Telmo Garção Lopes

No próximo sábado (5 de Abril) pelas 17 horas, na sede da SMUP - Rua Marquês de Pombal, 319, Parede (telefone 214571325), junto à estação de comboios - será apresentado o livro «As Grandes Dionísias» de Firmino Bernardo e Suzana Branco (Apenas Livros, 2013). Na mesa estarão os autores, a editora Fernanda Frazão e a actriz Alice Costa.

Haverá uma conversa informal sobre os vários momentos da criação da obra (enquanto texto, espectáculo e livro) e ainda uma pequena homenagem a Dioniso, deus do vinho e do teatro.

A peça de teatro «As Grandes Dionísias» foi escrita para a companhia Smupalenses, que a levou à cena em 2010, encenada por Suzana Branco, com cenografia de Bárbara Reis e interpretação de Alice Costa, Alexandra de Matos, Cristina Guerreiro, Cristóvão Santos, Fátima Calás, Helena Fernandes, João Azevedo, Manuel Jerónimo, Miguel Lourenço, Mónica Saraiva e Sofia Magalhães. Em Abril de 2013 foi editada pela Apenas Livros.

Tal como a capa do livro, o rótulo para o «vinho As Grandes Dionísias» foi criado pelo artista plástico Telmo Garção Lopes.

10/03/14

E Vivam as Tertúlias


Com alguns dias de atraso, deixo aqui o link para a reportagem "Declamar poemas e contar histórias nos recantos de Lisboa" que vale muito a pena ler.

Entretanto, e para consulta rápida dos leitores deste blogue, aqui fica o roteiro, ordenado segundo a periodicidade e com alguns acrescentos da minha lavra.

Poetas do Povo
Povo (Restaurante/Bar)
Rua Nova do Carvalho, 32, Lisboa
Periodicidade: Semanal (segundas-feiras)

Tertúlias Poéticas
Inda a Noite é uma Criança (Bar)
Praça das Flores, 8, Lisboa
Periodicidade: Semanal (quintas-feiras)

Tertúlias – Grupo Freya
Zazou – Bazar & Café
Calçada do Correio Velho, 7, Lisboa
Periodicidade: Semanal (sextas-feiras)
 
Tempestades no Cantarinho
Restaurante Al Cantaro
Rampa das Necessidades, 6, Alcântara, Lisboa
Periodicidade: Mensal (primeira quinta-feira deste mês)
 
Tertúlias às Quintas
Bar do Teatro Rápido
Rua Serpa Pinto, 14, Lisboa
Periodicidade: Mensal
 
Tertúlias – Time Bank
Café 100 Artes
Rua dos Fanqueiros, 162, Lisboa
Periodicidade: Mensal

28/02/14

6 de Março, 20:00, Jantar-Tertúlia no Al Cantaro



Como é certamente do conhecimento de alguns de vós, a Apenas Livros realiza, desde Setembro, um jantar-tertúlia no restaurante Al Cantaro (Rampa das Necessidades, 6, Alcântara, Lisboa), na primeira quinta-feira de cada mês.

O próximo terá lugar no dia 6 de Março (começa às 20 horas) e cabe-me a honra de iniciar a conversa. Falarei sobre teatro e sobre a colecção Teatro no Cordel, dando especial ênfase ao Memórias de Uma Vida para Esquecer e ao As Grandes Dionísias (em co-autoria com a Suzana Branco). Lerei também alguns excertos de textos.

Pela módica quantia de 14 euros, poderão usufruir de uma refeição completa - sopa à lavrador, arroz de pato à antiga, bebidas, sobremesa e café (ou chá de lúcia-lima) - e participar na tertúlia.

Para se inscreverem, deverão fazer a transferência para o NIB que consta do cartaz (0018.0003.2295.6296.0207.7) e enviar um e-mail para apenaslivros2@gmail.com com o nome e o comprovativo de pagamento. Quem preferir uma refeição dietética, deverá indicá-lo no e-mail, especificando também se opta por carne ou peixe.

O prazo de inscrição termina na próxima segunda-feira. Contudo, uma vez que a lotação é limitada, aconselhamos que não adiem a inscrição para o último dia.

Quem vier desfrutará de uma refeição e de uma conversa prazenteiras e poderá ainda adquirir livros da colecção Teatro no Cordel.

16/02/14

The Reading

A few weeks ago, I went to a local library to give back some books. The librarian registered them in the computer, almost mechanically, and then took a second look.

– You read poetry!?

– Yes, I do – I replied, afraid that she might send me to a lab somewhere.

– Pardon my surprise, but only a few of our readers appreciate poetry – she smiled and handed me a brochure - Did you know there’s a poetry reading in our auditorium in ten minutes?

She didn’t have to convince me. I went to a coffee shop, ate a chicken patty, drank a coffee and ten minutes later I was at the auditorium. There were a few people in the audience and a man on the stage thanked our presence and started complaining about today publishers who, according to him, were the wall between his poems and the world and spent their lives fighting new poets and stopping their success.

The audience applauded the speech, the man read some poems of his own and I started to empathize a lot with the publishers who refused his manuscripts. Then he asked if anyone in the audience wanted to read some poems. Nobody replied. He insisted. An early twenties girl got up and went to the stage, with more papers in her hand than a social security employee. I was worried about the number of poems she was going to read, but then I realized she only needed that much paper, because each verse had about fifty exclamation points.

She read her poems and I must confess that I learned a lot. For instance, I learned that a sunset is beautiful and orgasmic. How about a sky full of stars and no clouds, do you know how that is? It’s lovely and orgasmic. How about a garden full of red roses? It’s amazing, outstanding, sublime and orgasmic.

The audience applauded, specially two old ladies who seemed amazed with how easy is finding orgasmic things. “Anyone else wants to read a few poems?” Of course not! Nobody could compete with that girl’s verses. “We still have time”, insisted the man. I was about to suggest there was a good poetry section in the library, but the girl said she had a few more poems in her bag and could read them.

“Oh no, the same stuff again”, I thought. But she surprised me. The adjective “orgasmic” was in every poem, but there was a variation in the number of “as”. Some things were “orgasmic”, others were “orgaaaaaaaaaaaaasmic” and others were “orgaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaasmiiiiiiiiiiiiiiiiiic” (yes, there was also a variation of “is”). Sometimes the poems were so good that the number of repeated vowels matched the number of exclamation points.

Half hour later, the librarian came in and said it was time to go. The girl said she had a few more poems, but the woman insisted that they had to close the library. Once again, she didn’t have to convince me. I was the first to leave the room and I still wonder why I waited that long. Maybe I was too shy to leave. Of course that, before I go out, the librarian told me there would be those kinds of readings every week. I smiled and promised to check my schedule. Then, I caught the bus, went to a bookstore and bought enough poetry books to read during the next five years.

19/01/14

O dia em que me tornei camponês


Em homenagem ao grande músico João Aguardela, que nos deixou há cinco anos, Manuel Halpern decidiu incluir o conto O dia em que me tornei camponês, escrito em Março de 2009, na rubrica Contos para Pulares do programa Indiegente.

Aqui fica então para o Indiegente de 17 de Janeiro, com o conto, lido por mim, mais ou menos aos 35 minutos. O texto pode ser lido aqui e aqui.


16/01/14

10/01/14

Thriller La Fontaine


Talvez só ela soubesse do sucedido.
Era fulcral que só ela soubesse.
Se a descobrissem, estaria tramada.
E se alguém a tivesse visto?
“Sei o que fizeste”, diriam.
“O que fizeste no Inverno passado”.
Mas quem poderia julgá-la?
Aquela cigarra nunca se calava!
No Verão só cantava, nada de trabalhar.
No Inverno só mendigava, nada de cantar.
Era sempre assim!
Já farta, convidou-a para jantar.
Serviu-lhe pão com cogumelos.
Deixou-a estrebuchar.
Enterrou-a no quintal.

(Publicado também aqui e aqui)

A Cigarra, a Formiga (revisitação)


A formiga passava os dias a trabalhar.
A cigarra passava os dias a cantar.
Dias frios.
A cigarra toca à campainha da formiga.
- Vizinha, não há comida na minha casa.
- Trabalhavas para a ganhar?
- Cantava para animar os dias.
A formiga tranca a porta.
Passam vários dias.
A formiga toca à campainha da cigarra.
- Vizinha, não há cantigas na minha casa.
- Não cantas para animar os dias?
O acordo final?
A cigarra vai a casa da formiga.
A formiga dá comida, a cigarra dá cantigas.

(Publicado também aqui)