Quando começou a guerra de Tróia, todos os reis gregos foram chamados a combater. Forçado a separar-se da consorte Penélope e do bebé Telémaco, Ulisses só desejava voltar rapidamente para casa. Infelizmente, a guerra durou dez anos e o regresso dele teve tantos obstáculos, que durou outros dez.
Quando se soube que a guerra tinha terminado e que, entre os sobreviventes, só Ulisses não tornara ainda a casa, houve quem acreditasse que ele morrera a tentar regressar. O palácio encheu-se rapidamente de pretendentes à mão de Penélope que, fiel a Ulisses, foi sempre adiando a resposta. Insatisfeitos com a situação, os pretendentes ocuparam o palácio onde passaram a fazer festins diários e disseram que só iriam embora quando um deles fosse escolhido para casar com Penélope e governar Ítaca.
Ao contrário do que esperavam, Ulisses regressou, infiltrou-se entre eles, disfarçado de mendigo, e só se revelou quando estava armado com um arco e flechas e tinha acesso a lanças e escudos. Embora ainda tivessem espadas e fossem superiores em número, os pretendentes tiveram medo. Morto Antínoo, o mais arrogante de todos, Eurímaco tentou apelar ao perdão: «reparar-te-emos, à custa dos cidadãos, de tudo o que se comeu e bebeu nesta casa» (Homero, A Odisseia, Edições Europa-América).
Estas palavras bastam-nos para vermos o carácter desta gente. Passaram anos a comer bens que não eram deles e quando chegou a hora de responderem por isso, propõem-se restituir tudo "à custa dos cidadãos". Que respondeu Ulisses a isto? Como é óbvio, matou-os todos, com a ajuda de Telémaco, Eumeu e Filétio.
Claro que Ulisses tinha outras razões para matar os pretendentes: quiseram casar com a mulher dele, quiseram roubar-lhe o poder, tentaram matar-lhe o filho numa emboscada, insultaram-no na própria casa (quando o julgavam um mendigo), tê-lo-iam assassinado se pudessem... Mas, mesmo assim, devíamos reflectir neste episódio.
Ao contrário do que esperavam, Ulisses regressou, infiltrou-se entre eles, disfarçado de mendigo, e só se revelou quando estava armado com um arco e flechas e tinha acesso a lanças e escudos. Embora ainda tivessem espadas e fossem superiores em número, os pretendentes tiveram medo. Morto Antínoo, o mais arrogante de todos, Eurímaco tentou apelar ao perdão: «reparar-te-emos, à custa dos cidadãos, de tudo o que se comeu e bebeu nesta casa» (Homero, A Odisseia, Edições Europa-América).
Estas palavras bastam-nos para vermos o carácter desta gente. Passaram anos a comer bens que não eram deles e quando chegou a hora de responderem por isso, propõem-se restituir tudo "à custa dos cidadãos". Que respondeu Ulisses a isto? Como é óbvio, matou-os todos, com a ajuda de Telémaco, Eumeu e Filétio.
Claro que Ulisses tinha outras razões para matar os pretendentes: quiseram casar com a mulher dele, quiseram roubar-lhe o poder, tentaram matar-lhe o filho numa emboscada, insultaram-no na própria casa (quando o julgavam um mendigo), tê-lo-iam assassinado se pudessem... Mas, mesmo assim, devíamos reflectir neste episódio.
É que ainda há por aí muita gente a viver à grande e a pagar as dívidas à custa dos cidadãos. Veja-se o que aconteceu quando faliram bancos. Quem pagou os prejuízos? Nós. Vejam-se os grandes negócios por ajuste directo entre o Estado e os amigos dos políticos, as reformas obscenas de quem trabalhou meia dúzia de anos na política, o dinheiro gasto em estudos feitos para a gaveta, o investimento desproporcionado em submarinos que nem sequer estão em boas condições, o dinheiro que recebem do Estado todos os hipócritas que vão à televisão dizer que temos "Estado a mais". Quem paga isto tudo? Nós, claro. E, se o que pagamos não chega, não há problema. Passamos a pagar mais.
Sou contra a pena de morte e não acredito na violência. Contudo, às vezes interrogo-me sobre como seria o mundo se, de cada vez que alguém diz "pagamos a dívida à custa dos cidadãos", aparecesse um Ulisses munido de arco e flechas e lhe desse o tratamento adequado. Desconfio que seria um mundo bem melhor.
Sou contra a pena de morte e não acredito na violência. Contudo, às vezes interrogo-me sobre como seria o mundo se, de cada vez que alguém diz "pagamos a dívida à custa dos cidadãos", aparecesse um Ulisses munido de arco e flechas e lhe desse o tratamento adequado. Desconfio que seria um mundo bem melhor.