Uma
das atracções das feiras do livro é a presença de autores disponíveis para
conversar e assinar livros. Para quem não está habituado a estas lides, deixo
um estudo sucinto, embora imprescindível, sobre os vários tipos de autores que aí
podemos encontrar, classificados pela atitude e pelo grau de popularidade.
1. Os que têm um ego enorme.
Endeusados pelo público e pela crítica, contam com alguns prémios literários, embora
achem que mereciam mais. Nunca sorriem e costumam insultar os leitores masoquistas
que não desistem de lhes pedir autógrafos.
Alguns dos insultos mais comuns: “venho para aqui promover o meu último livro e você compra o penúltimo, só porque é mais barato?”; “que raio de nome é esse, os seus pais não gostavam de si?”; “quem é você para me dar lições de pontuação?”.
Vá-se lá saber porquê, estes autores raramente se encontram acompanhados pelos respectivos editores, que costumam fazer-se substituir por assistentes estagiários.
Alguns dos insultos mais comuns: “venho para aqui promover o meu último livro e você compra o penúltimo, só porque é mais barato?”; “que raio de nome é esse, os seus pais não gostavam de si?”; “quem é você para me dar lições de pontuação?”.
Vá-se lá saber porquê, estes autores raramente se encontram acompanhados pelos respectivos editores, que costumam fazer-se substituir por assistentes estagiários.
2. Os verdadeiros feirantes.
Geralmente acarinhados pelo público e pela crítica, estão
sempre bem-dispostos e gostam de apregoar os títulos dos livros deles e os
respectivos descontos.
3. Os introvertidos afáveis.
Sorriem cordialmente quando os leitores os abordam, mas falam pouco e num
volume baixo.
4. Os solitários entediados.
Passam tardes inteiras sem que um único leitor se aproxime. Costumam ser
colocados ao lado de autores populares com filas intermináveis, o que lhes
permitiu desenvolver uma enorme capacidade de resistência à frustração.
5. Os “vanity victims”.
Pagaram uma boa quantia para publicarem numa editora que publica qualquer um e outra
pela oportunidade de irem assinar livros. É possível que alguns se disponham a
pagar a quem lhes peça autógrafos.
Terminada esta divisão, podemos ainda categorizar os autores pelo tipo de autógrafos que assinam.
1. Os repentistas.
Improvisam rapidamente jogos de palavras a partir do nome ou das
características dos leitores. Pelo menos, até se cansarem e começarem a
escrever o mesmo a todos.
2. Os astrólogos.
Fingem escrever uma dedicatória a partir das características daquele leitor
específico, mas no fundo escrevem mensagens que se aplicariam a milhares de
pessoas diferentes.
3. Os despachados.
Limitam-se a escrever generalidades como “beijos”, “abraços”, “cumprimentos” ou
“volte sempre”.
4. Os esquecidos.
É preciso dizer-lhes o nome cinco vezes e acabam por se enganar ao escrevê-lo
na dedicatória.
5. Os inseguros.
Pedem sempre desculpa pela dedicatória: “ai que rimei sem querer”, “ai que escrevi
uma redundância”, “ai que ninguém percebe a minha caligrafia”. Proponho que
estes autores passem a ser acompanhados por uma equipa de apoio e que se adopte
o seguinte processo: o leitor compra o livro, o autor escreve a dedicatória num
guardanapo, o editor dá-lhe umas dicas para a melhorar, o autor procede às
alterações necessárias para satisfazer o editor, o revisor elimina as eventuais
gralhas, o designer amanuense passa a dedicatória para o livro com uma
caligrafia impecável e, finalmente, o RP devolve o livro ao leitor, que se vai
embora satisfeito.