Mensagem de Natal de 2011
Mensagem de Natal de 2010
No outro dia ouvi a mensagem de Boas Festas do presidente da República e fiquei tão impressionado, mas tão impressionado, que achei logo que havia ali matéria para uma tese em Ciências da Comunicação. Ou nisso ou em Psicopatologia.
Tenho uma coisa a dizer a todos os detractores de Cavaco Silva: não, o presidente não fez “copy paste” do discurso do ano passado. Pelo contrário, existem tantas melhorias, que nem sei por onde começar.
Só para terem uma noção, o discurso de 2010 começava assim: “Desejamos a todos os portugueses um feliz Natal e um bom Ano Novo. O Natal é a festa da família”. Já em 2011, começa de uma maneira completamente diferente: “o Natal é a festa da família”. Ora aí está! O homem não se limitou a fazer “copy, paste”, fez “copy, paste, delete”. Os que o acusam de estar sempre no facebook, esquecem-se de que ele já sabe mexer no Word.
Mas também há melhorias no domínio da linguagem e das técnicas cinematográficas. Reparem: o ano passado o homem disse logo ao que ia, ficámos logo a saber que nos desejava Bom Natal e Bom Ano Novo. Este ano o homem cria suspense. Será que o senhor Silva e a senhora sua esposa nos desejam Bom Natal e bom 2012? Se quisermos saber, vamos ter que ouvir tudo até ao fim… Quem é que andou a ver muitos filmes do Hitchcock, quem foi?
O cenário está mais pobre, estamos de acordo. E este ano, com os cortes do Viegas no sector do cinema, nem sequer há dinheiro para fazer zooms. Em 2010 filmaram numa sala do Palácio de Belém, cheia de luzes, cor e Árvores de Natal. Em 2011 filmaram na marquise do casal Silva, junto a um presépio modesto, que não tem sequer os reis magos. E este pormenor não é despiciendo. É que qualquer português com bom senso sabe que não deve deixar entrar um Gaspar em casa.
A direcção de actores é outro aspecto a salientar. Embora o Aníbal e a Maria passem muito tempo a ler o teleponto sem grande expressividade, há pequenas variações de expressão, muito subtis, quase imperceptíveis, mas dignas de registar. Reparem no movimento do pescoço de Maria, cheio de charme e de swing. Quando o presidente acaba de dizer “é na família que podemos encontrar os afectos que nos dão força”, ela olha para ele, orgulhosa do seu homem, que lhe dá muitos afectos, muita força e a impede de viver só com a reforma de 800 euros.
O presidente prossegue, mostrando as melhorias na capacidade de síntese. Enquanto em 2010 falou para os que sofrem “do drama do desemprego, da doença, da solidão”, este ano falou na “crise”. Ora aí está, a palavra “crise” resume tudo, podemos avançar, que este assunto está despachado.
Chega a vez de a Primeira-Dama falar. Os cínicos esperam que Cavaco a contemple com admiração, como ela fez antes. Mas ele, só para nos surpreender, olha-a de lado quando ela diz “partilha”. Vê-se claramente o pensamento “está bem, filha! Falas em partilhar, mas quem traz mais dinheiro para casa é aqui o Aníbal”.
E é precisamente Maria Cavaco Silva, na sua graça feminina, que desfaz parte do suspense criado no início do vídeo: “desejamos a todos um feliz Natal”. “Então e um bom Ano Novo, não nos desejam um bom Ano Novo?”, pergunta o espectador, inquieto. E o bom presidente dissipa logo todas as dúvidas reforçando que nos deseja “um ano 2012 tão bom quanto possível”.
Tudo está bem quando acaba bem! Ficámos satisfeitos, embevecidos com o sorriso da primeira-dama, esclarecidos com o brilhantismo do senhor presidente e surpreendidos com a bofetada de luva branca a todos os que acusam Cavaco de falta de originalidade. Falta de originalidade têm os que se limitam a desejar bom Natal e bom 2012. Mas quantos se lembram de dizer “tão bom quanto possível”? Quantos?
E pronto, foi a minha análise. Desejo-vos a todos um bom Natal e um bom Ano Novo. Ou pelo menos, que sejam tão bons quanto possível.
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